é sabido que nunca fui pessoa especialmente dada a dias festivos, natal incluído. A passagem de ano e o aniversário, serão, talvez, ainda piores, de acordo com o que já descrevi nestas páginas virtuais, mas o natal também não é grande espingarda, pelos meus parâmetros. Não se discute o valor do dia em termos mais filosóficos ou religiosos, falo do natal concreto, aquele que se vive todos os anos. Esse nunca (ou antes, desde que tenho idade para não estar vidrada nos brinquedos) foi um dia especialmente do meu agrado.
Este ano, a coisa muda de figura. Vou fazer o meu próprio natal. Hoje pedi à minha mãe a receita do perú de natal aqui de casa (que é nada mais, nada menos que o meu prato favorito, ex aequo, com alguns outros). Tenciono ensaiar primeiro o recheio, para garantir que não falho miseravelmente. E depois, quero fazer o perú com um frango da quinta. Por mais nonsensical que isso possa parecer, o perú é só o receptáculo, o recheio é a grande estrela, tanto que o perú pode até mesmo ser substituido por outra ave, sem grande desprimor para o prato. E com vantagem para o meu frigorífico, onde não cabe um perú. E para mim, com todas as sandes de perú requentado que não terei que comer. Farei, então, uma galinha do campo de natal. Ou talvez outra ave, se me parecer bem, de dimensões modestas adequadas ao número reduzido de convivas.
Pedi também a receita do arroz doce, da aletria, e vou pedir, sem falta a dos formigos, que são os doces de natal de que eu gosto. Nada de frituras. Esses, basta-me um de cada por ano, e vou comê-los em casa parental, com toda a certeza.
Pus o meu presépio (que comprei o ano passado, conforme descrito) num saco para levar. A minha mãe deu-me uma coroa e bolas de natal roxas, de vidro. Vou escolher uma árvore, de plástico, que não mata mais nenhum ser vivo (comprar uma envasada, no meu caso particular, era condená-la à morte lenta) pequenita e não muito feia e uma estrela. Vou dedicar algum tempo à escolha da estrela, que me parece importante.
E vou fazer um pequeno natal em casa. E estou felicísima com a ideia. Quase gosto das decorações! Quase gosto das luzes, e do frio e desta música que irrompeu pela nossa vida quotidiana adentro (e normalmente só me irrita). Nem quero ainda pensar em prendas. Só no quentinho do lar, com quem mais interessa lá dentro, num dia que não será o de Natal, mas que será um natal, cheio de aromas, chocolate quente e um perú que não é perú. E sorrio.
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