Archive for the 'teorias obtusas' Category

11
Ago
07

Estou no Porto

A primeira, ou vá lá, segunda coisa que me dizem é: não estás preta. Pois, eu sei. Eu nunca fico preta. Mas consegui a grandes penas trocar o habitual tom cor-de-rosa-porquinho por um mais saudável alarajado-dourado, que é o melhor que se arranja. Até ficou um alaranjado relativamente escuro! Mas dizem-me de caras que estou branca. Pois, eu sei que sou branca. Mas foi exactamente por aqui que começamos. Resquicios dos meus tempos de loura que não me largam. A melanina teima em não se me colar à pele, mesmo que os químicos me escureçam o cabelo…

Nos últimos anos, mais uma vez, a duras penas… consegui entrar em relativa paz com a minha cor de pele. É clara, pois é. Mas tem direito à vida como as outras cores todas. E até não é feia de todo. Mas quando me dou ao trabalho de passar horas e dias (dias e dias, porque de manhã dorme-se e antes das 17 é suicídio para alguém como eu apanhar sol, nem que seja com factor 50) ao sol, ao vento, ao sal… a cuidar de forma quase obsessiva do meu cabelo para que não retorne à sua cor habitual veranzeira de um  loiro relativamente claro e seco, tudo isto para alaranjar e dourar um bocadinho, o menos que se espera é a delicadeza de não se referir o facto, ou pelo menos, como também já ouvi, não estás morena, mas estás com uma cor bonita…  E há as habituais perguntas: – este ano não foste à praia? – Sim, 3 semanas no algarve… – Cara de estupefacção.

É  triste… Tenho que fundar um grupo de auto-ajuda para os melanino-privados. Começaria assim: Olá, eu chamo-me *** e não bronzeio mais que isto.  – Coro: «Olá ****».

E por hoje é tudo.

05
Mar
07

o valor da verdade

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Isto é uma coisa que me tem ocupado, ultimamente e por milagre, vejo-a reflectida nas Angry Little Girls. Acho estas miúdas muito transcendentes.

A nossa relação com a mentira e a forma como vemos a ética em geral parece passar por diferentes fases. Não entrando aqui nos estádios do desenvolvimento moral, que não me apetece andar a dar aulas por este meio, partilho antes convosco uma das minhas «teorias pessoais e idiossincráticas», mas conhecidas por «teorias obtusas» sobre o assunto.

Tudo começa por ser muito linear. Aquilo que não corresponde à verdade é uma mentira e pronto.  Um engano ou uma inexactidão, por esta lógica, é uma mentira.

Depois as coisas começam a complexificar-se. Percebemos que há diferentes pontos de vista, e que nem sempre sabemos o que é a verdade. Que se calhar muitas verdades (para não dizer todas) são relativas. Que há mentiras caridosas. Tornamo-nos socialmente mais hábeis e mais sensíveis e deixamos de responder à colega que nos pergunta se está bonita «não!», mesmo que seja isso que pensamos. Percebemos que muitas vezes é melhor não dizer o que pensamos, por respeito pelo outro, por consideração para com ele, e que isso não é necessariamente mau. Toda a etiqueta se baseia nesta capacidade de não dizer certas verdades, ou dizê-las de formas eufemísticas. Apercebemo-nos de que ter a boca muito perto do coração nem sempre é bom. Que aquelas pessoas que dizem «eu sou muito franca, digo tudo o que penso! Cada um que lide com isso como quiser», muitas vezes são cruéis e insensíveis e que isso não é lá muito bom.

Gera-se assim um dilema, entre dizer sempre todas as (nossas) verdades a todas as pessoas em todas as circunstâncias, e uma certa «avaliação de danos», uma escolha entre um mal menor, que é uma pequena falta à verdade ou uma pequena crueldade. E se há verdades, que, por mais que doam, têm que ser ditas, outras há que não trazem bem nenhum ao mundo. Fica assim a dúvida de que verdades dizer e quais calar.

Parece-me que uma mentira de conveniência é, em princípio, uma coisa má. O mentir para se sair de uma alhada airosamente. Já quando a omissão é feita a pensar num bem-maior, pode ser a melhor coisa a fazer. O pega lá, eu sou assim e penso isto, o escudar-se com a verdade para dizer coisas sem conveniência nem sensibilidade, não é honestidade. Honestidade será, talvez, uma postura geral de respeito pela verdade e da sua valorização, equacionando em permanência os outros valores que a intersectam nas circusntâncias concretas de cada situação. E ser capaz de equilibrar esta ponderação em cada situação em função de uma multiplicidade de valores e de indicadores contextuais… não é nada linear.

15
Fev
07

Da Fnac

Há uns tempos, tornou-se popular (entre os amigos, claro) uma das minhas teorias obtusas.

Tem a ver, precisamente, com a Fnac e as relações.

Dizia eu, armada em conselheira sentimental  – coisa que faço de vez em quando, com resultados esteticamente curiosos mas eticamente dúbios – a jovem em situação de encalhanço: andas as procurar nos sítios errados. Ele nomeou, como potenciais sítios para conhecer pessoas: os chats, os ginásios e os bares. Claramente, são 3 péssimos sítios. Nem me parece valer a pena explicar porque me parecem péssimos sítios, mas cá vais: nos chats só se encontram desesperados e nunca se sabe com quem se está a falar. A possibilidade de se trocar mimos por escrito com um psicopata, do sexo oposto áquele que apregoa e com dois ou três problemas graves, é enorme. Nos ginásios conhecem-se… frequentadores de ginásios. Que são, na sua esmagadora maioria, pertencentes a duas classes de indesejáveis: os obcecados pelo físico e apaixonados pelo seu próprio reflexo que só falam em coisas profundamente desinteressantes, e os infelizes e barrigudos sem auto-estima. Por fim, os bares, onde se podem conhecer desesperados que bebem.

Apresentei-lhe, em alternativa, os supermercados e a Fnac, sendo a Fnac, na minha opinião, a melhor aposta. Os supermercados permitem fazer uma análise sociométrica do potencial pretendido só de olhar para o carrinho. Os solteiros, regra geral, levam muitos congelados. A elegibilidade do solteiro será depois definida pelos restantes produtos no carrinho. Por exemplo, congelados e fraldas fazem um péssimo conjunto. A Fnac (ou outra livraria/discoteca, que infelizmente não sou sócia da marca) é perfeita, porque não só permite fazer uma análise dos interesses do sujeito, na continuação do post roubado ao Lourenço Bray, como ainda nos dá um bom tema para início de conversa.

Duas estratégias:

localizado potencial alvo, suficientemente bem apessoado e sem cara de pai de família, presta-se discretamente atenção às suas escolhas. Pega em Margarida Rebelo Pinto. Foge-se rapidamente, tapando o rosto para não correr o risco de se ser associado à criatura.

Outra possibilidade é andar por perto de escolhas-chave e ver quem lhes pega: aproxima-se criatura potencialmente interessante da secção de música alternativa. Pega em duas ou três coisas que provam que só pode ser uma pessoa fascinante (isto é, com os mesmos gostos que nós)… de preferência alguma coisa menos conhecida, que não dê margem para dúvidas de que é uma pessoa verdadeiramente especial, pertencente ao grupo dos eleitos. Pega-se estrategicamente em conjunto compatível mas diferente de escolhas e oferece-se ou pede-se sugestão pertinente. E pronto, you live happily ever after. The same goes for books and movies.

É claro que alguém com bom gosto pode ainda ser um psicopata, mas pelo menos tem algumas qualidades comprovadas!

24
Jan
07

teoria da relatividade

enquanto me afanava numa passadeira rolante do ginásio (onde fui pela 2.ª vez), compreendi uma aplicação prática da teoria da relatividade. Na medida em que os nossos corpos estão em movimento, ocorre uma distorção espacio-temporal, que pode até ser de grande utilidade.

Vejamos, meia hora numa passadeira rolante parece durar tanto tempo como um dia inteiro passado em condiçoes normais. O tempo arrasta-se lentamente nos ginásios. Os ponteiros parecem não sair do sítio. E quando pensarmos que o tempo determinado deve estar quase a terminar, verificamos, com espanto, que ainda faltam 25 dos 30 minutos.

Ora, quando estiver com um prazo apertado para alguma coisa, a solução lógica será levar o portátil para o ginásio e trabalhar enquanto ando no mesmo sítio.

24
Dez
06

post secret de natal


Já falei do Post Secret no meu defunto blog. Ao contrário de outros vícios, que morreram com o tempo ou foram substituídos (como a minha people’s republic of portucallensis, que também já deve estar extinta) este permanece. Todos os domingos acorro aqui, cheia de vontade de ler a selecção de postais dessa semana. (vejam rápido que para a semana serão substituídos)

Sendo hoje natal… a selecção não podia deixar de ser temática. É curioso como ser-nos dito constantemente que temos a obrigação de estar felizes é um caminho seguro para a depressão. O facto de sermos expostos a um ideal de como deve ser essa felicidade, como deve ser o jantar de natal com a grande família unida e por aí a fora é garantia segura de insatisfação… por isso, o natal é a época do ano com maior incidência de suicídios.

Apesar de tudo, vai havendo sentimentos genuinos que salvam o quadro, e que normalmente nem sequer são aqueles que a publicidade tanto recomenda. Há quem nos aqueça a alma, independentemente da altura do ano. há quem faça o Natal acontecer. Afinal, o Natal é o dia que se convencionou para festejar o nascimento de alguém que veio alterar as leis, substituindo-as por dois mandamentos – ama o próximo como a ti mesmo e a Deus acima de todas as coisas. Ninguém nos avisou é que ia ser tão difícil! Onde há amor há Natal. E o resto são tretas.

22
Dez
06

desporto

considero ponto definidor da minha pessoa a detestação compulsiva e profunda de qualquer tipo de actividade desportiva. é uma longa história, cujas raízes se encontram sem dúvida no berço ou antes mesmo. os desportos colectivos, quer os de equipa, quer os que simplesmente se fazem em grupo (tipo aeróbica, tudo a fazer a mesma coisa ao mesmo tempo), conseguem superar os níveis de detestação dos restantes. também a dança (organizada) entra nesta categoria, mas acresce à detestação básica um ódio suplementar devido a um longo percurso de questões pessoais… tendo em conta a fobia clínica de água e de alturas que apresento, resta muito pouco para apreciar, ainda que moderadamente.

sempre odiei educação física. sempre passei com 3, depois de ter tido 2 no 1.º e no 2.º período, meramente por pressão dos restantes professores. a partir do 10.º ano meti atestado e nunca mais houve educação física para ninguém, o que acarretou melhorias muito significativas na minha qualidade de vida, felicidade e vida social.

o que sempre me valeu foi o facto de contar com um metabolismo invejável, que me permitiu, apesar do meu apreço inversamente proporcional pela comida, ser magra desde a puberdade. sem esforços, sem desporto, sem dietas.

ora, a idade pesa. começa a pesar. o meu peso já não é o que era. e outras preocupações prosaicas, relacionadas com colesterol e futuros níveis de cálcio e afins, já para não falar no pneuzito que se foi inslando paulatinamente à volta da cintura, fazem-me de tempos a tempos sentir peso na consciência devido a tantos anos de total e completo sedentarismo. sobretudo desde que tenho carro, completo mesmo! assim, de tempos a tempos, decido inscrever-me num ginásio.

o processo é invariavelmente o mesmo. encaro o ginásio como se encara um remédio: sabe mal, mas vai fazer bem – tapa o nariz e engole depressa. só consigo suportar a ideia de fazer musculação: nao exige grande coordenação motora, faz-se sozinho e em paz, produz efeitos rápidos com um mínimo de ridículo e saltinhos, mantém-me longe das miudinhas com pompons a combinar com as sapatilhas e com o relógio e com as meias. no início arrasto-me religiosamente. depois começo a aceitar qualquer desculpa para faltar. por fim, chego à conclusão que desisiti.

já há 3 meses que decidi voltar a inscrever-me num ginásio com uma amiga. ainda não pus lá os pés. antes das férias, ela comunicou-me que era sua decisão de ano novo ir para o ginásio e que iria, comigo ou sem migo… ora, tanta determinação surtiu os seus efeitos e garanti-lhe de imediato que teria companhia na sua actividade. hoje, para me obrigar a cumprir a promessa, comprei roupa de desporto. mas roupa de desporto toda xpto! tão xpto que me apetece andar com ela todos os dias! leve e confortável e flattering! senti-me de imediato activa e leve só de a experimentar e tive que ser chamada à realidade para não comprar dois pares de calças iguais. talvez esta fonte de motivação me faça pressistir, desta vez…

mas…
será muito mau prenúncio ter escolhido peças que posso usar também… fora do ginásio?

09
Dez
06

um fim de semana prolongado,


como tantas coisas na vida, é eterno enquanto dura. Um fim de semana prolongado, a apontar para umas férias de Natal, deixa o apetite para maiores e mais doces eternidades.
Este, tem sido passado de forma caseira e confortável, com a presença afável de uma lareira acesa. Hoje dei um passeiozito pelas ruas da Lousã, e pela primeira vez este ano, senti um frio convincente. Até agora, só ameaças de frio. Hoje não, um frio a sério, daqueles que fazem doer a cara que se expõe, corajosamente, a uma aragem cortante e húmida. Soube-me bem, confesso. Deu maior realidade à promessa de férias que se avizinha e ganha forma no horizonte temporal. Até hoje, de Natal, só mesmo as multidões tão claustrofóbicas a enxamear nos centros comerciais. Hoje pareceu mesmo que o Natal se avizinhava, e nem as decorações me pareceram ridículas. A ponto de eu prórpia ter adquirido decorações de Natal – mais concretamente, um presépio. Comprei um presépio bonito. Que o espiríto natalício, ao contrário do que querem fazer crer, não quando se quer, é quando se pode. E se só se pode de quando em vez, há que aproveitar essas vezes com afinco.
Aproveito esta para vos desejar… um feliz Natal.

(P.S.: deixo um presépio de presente, a quem quiser entrar numa de do-it-yourself do espírito natalício)

19
Nov
06

a natureza do mal

é gostarmos dele. terá bastante razão o dito de que tudo o que é bom faz mal, que neste caso trasnvisto para dizer que gostamos daquilo que nos faz mal. sejam as comidas pesadas ou doces, o álcool, café e quejandos, seja o dormir até à noite seguinte, os temas depressivos, sejam as pessoas erradas… gostamos do que nos faz mal. claro que quando a dor de barriga/obesidade/ressaca sobrevém, deixamos de gostar, ao menos por algum tempo. às vezes de vez. levei anos a tornar a conseguir tragar bayleys depois de um certo episódio que envolveu b52’s com fartura e do resto não me lembro bem. ainda hoje o evito. também nos fartamos de coisas que fazem mal. também gostamos, eu pelo menos gosto imenso, de pessoas fantásticas, coisas bonitas, peixe fresquinho grelhado, sopinha, água mineral e outras coisas que tais de que nem eu me atrevo a dizer maldades. também gostamos do que nos faz bem… e disso tendemos a não ter motivos para nos enchermos e fazermos desintoxicações, a seguir.
e todas estas reflexões sobre o mal por uma partida da natureza, que neste momento me faz estar aqui, em cima da cama, a ganhar coragem para entrar nela, a esfregar os olhos e com o nariz a querer asfixiar-me. a minha alergia a gatos. as saudades que tive dos meus peludinhos. as saudades daquele ronrom no meu colo… daquele pelo macio, daqueles feitios tão diferentes de cada um dos peludos. de me esparramar no sofá com os gatos. de falar com eles de maneira ridícula. de ser perseguida por 8 patas pela casa fora. e o restulado… este. odeio profundamente ser alérgica a gatos. não me rendo. recuso-me. não quero desintoxicar-me deles. ainda assim, fazem mais bem que mal. antes podia ser alérgica a marisco, ou a uma planta qualquer… mas não… tinham que ser os gatos (e outras miríades de coisas, mas isso não interessa para o caso). é cruel.




Poeira e letras

Ora, o que eu pretendo, com esta edição renovada do poeira e letras, é continuar a partilhar as minhas reflexões e histórias do quotidiano, descobertas de músicas, sites com interesse ou simplesmente piada e recursos que podem interessar a quem, como eu, anda dedicado à educação. Neste espaço coexistem o pessoal e o público em doses q.b.
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